Pautas ambientais em tempos de mudanças "não só" climáticas



Assisti em rede de televisão, que várias regiões de São Paulo na tarde de 16 de março estavam embaixo de água, com as águas da chuva engolindo centenas de carros, ilhando milhares de pessoas e causando uma mudança na vida do paulistano, com tamanha força da natureza que abalou a maior cidade da América Latina.
Poucos meses atrás, acompanhamos a situação que assolou os vizinhos catarinenses, e descobrimos no decorrer das notícias a verdade que estava por detrás de toda a “fúria assassina” da natureza, onde se demonstrava a “sanha destruidora” do homem, travestida em licenças ambientais “fraudadas”, com estudos técnicos manipulados e uma falta de ética que permitiu o estupro do código ambiental daquele estado, onde os homens de governos, técnicos, empresários e outros, que tomaram as áreas de preservação na “Mão Grande” burlando a lei, ou alterando-a ao bel prazer do cliente foram lembrados, mas jamais serão acionados por todo o crime ambiental perpetrado contra os morros e banhados, zonas costeiras de Santa Catarina. Depois dos desastres ambientais, chegou a hora de discutir a agenda ambientalista por lá, segundo as notícias das semanas seguintes ao caos gerado pela mão humana.
Aqui o RS, na data de hoje (17/03) estive em reunião promovida pelo novo secretário de Meio Ambiente do Estado, para dialogar com as ONGs uma pauta, agenda mínima, “agenda comum” como disse neste encontro. Deve ser louvada a iniciativa do diálogo, vinda de onde não estava existindo interesse na “máxima” utilidade desta forma de expressão que gera a democracia nos processos decisórios ou de consenso entre as partes de interesses, que na questão ambiental, em suma, é de responsabilidade e ação de todos os cidadãos, sejam eles ambientalistas, ou um simples pedreiro em trabalho na construção de uma obra.
Em sua explanação, disse o que sabemos como ambientalistas, que mesmo com todo o esforço possível do secretário e suas equipes, a questão ambiental não poderá contentar gregos, troianos, finlandeses, noruegueses, japoneses, e outros, que pretendem explorar, na melhor das hipóteses, “um pouco” do nosso solo, águas, trabalhadores, etc.
O fato que mais enseja discussão, acredito, é uma necessidade de mudança de pensamento no seio do Movimento Ecologista, para entender que os tempos são outros e as velhas formas de ver e fazer as coisas mudam com o passar dos anos.
Infelizmente, a pauta ambiental do estado é muito mais ampla do que foi passado para o Secretário de Estado do Meio Ambiente pelas mãos da APEDeMA/RS em documento onde entabulam críticas, propostas e necessidades de reflexão de parte do órgão ambiental do estado, no caso das Unidades de Conservação, e na manutenção da resolução do Conselho Estadual de Meio Ambiente que dá poderes a APEDeMA/RS para indicar as entidades que irão compor e ter assento no CONSEMA/RS.
O encontro, necessário para quem assumiu em menos de 30 dias a pasta, para saber das ONGs o que pensam sobre a gestão e a situação dos ambientes naturais gaúchos, serviu também para ser estabelecido um diálogo franco com o novo secretário e um decano da luta ambiental, Flávio Lewgoy, quando acreditam devam ser respeitadas as opiniões que se estabelecem no decorrer das discussões sobre a questão ambiental, mas que isso não significa de que devamos nos submeter a decisão ou opinião de outros.
Uma boa indicação que pode haver diálogo franco com o Estado na pessoa do Secretário é sua disposição em chamar as ONGs para a mesa do debate, mas deveremos aprender que a causa é de todos, e que a pulverização do movimento em defesa do meio ambiente se dá exatamente por não se estabelecer o diálogo interno, a comunicação e ação conjunta para se debater as situações macros e resolver os problemas pontuais em inúmeras regiões do RS.
A questão dos resíduos sólidos no Estado, pautada diariamente pelas ONGs do interior, é um assunto de real monta. Se fosse apresentada na reunião a possibilidade de 70% dos municípios gaúchos adotarem medidas, incentivados pela Lei Estadual n.º 9.493 de 07 de janeiro de 1992, que “considera no Estado do Rio Grande do Sul, a coleta seletiva e a reciclagem do lixo como atividades ecológicas, de relevância social e de interesse público”, seriam resolvidos um dos grandes problemas ambientais do mundo, onde seriam fechados os lixões municipais, educado o povo na cidade para separar o lixo e construídas usinas de triagem para tratar o lixo e entregá-lo as fábricas que utilizam material reciclável, gerando emprego e preservação, educando novas gerações.
Esta seria uma das pautas a serem colocadas em discussão na agenda comum em prol da natureza, em minha opinião, e que surtiriam efeitos mais concretos pela causa ambiental no RS.
Julio Wandam
Ambientalista
REDE Os Verdes de Tapes/RS
GT de Comunicação/REDE Bioma Pampa
Afiliada a APEDeMA/RS
Parceiros de Yvy Kuraxo, Fundação Villas-Bôas, REAPI, REBIA e BIOFILIA

Nenhum comentário: