Na iminência do fim

"A Sociedade de Consumo é uma orgia. Como tal ela não terá duração. O momento da verdade é inevitável. Estamos agindo hoje como se fôssemos a última geração e a única espécie que tem direito à vida. Nossa ética que não abarca os demais seres, não inclui sequer nossos filhos.” (*)
 
Esta é uma frase do célebre ser humano que pisou este planeta, em texto originalmente escrito em 1972, mas ainda viva sua verdade, onde explicita sobre o Caos que nós aguardamos de forma coletiva, ocasionada por alguns.

As frases do texto parecem profecias, se concretizam exatamente como escreveu o ecologista. Neste ano de 2009, se passam quase Quatro décadas, e a leitura pode ser aceita como atual e terrivelmente verdadeira suas conclusões e comparável a infâmia humana que ainda assola o planeta em qualquer lugar, seja na Amazônia, seja na calçada de uma cidade como Tapes.

Estraguei meu dia ao presenciar a “tacanha” ação de “suprimirem” da calçada em frente ao prédio da Assistência Social, uma árvore Espatódea (Spathodea campanulata) em plena vida e vigor, coberta de folhas e flores, que não estava doente e cumpria com sua função de retirar no dia o CO² (gás carbônico) da poluição humana e nos devolver a noite o oxigênio que respiramos e nos mantém vivos. Atendia também as abelhas e beija-flores, sebinhos e outros pequenos pássaros que se abasteciam de águas guardadas em seus cálices de flores de cor alaranjada. Nem nos fios elétricos da rua a copa atingia.

Não havia motivos para tal “assassinato” desta árvore e que também atingiu uma goiabeira (Psidium guayaba) que nascera “gaudéria” na calçada e que coberta de frutos foi morta e retirada de onde estava inúmeros anos, fornecendo seus frutos a avi-fauna urbana, e que naquela manhã restaram jogados em meio a rua.

Aquele prédio, agora reformado, bonito, com pintura e calçada nova e nenhuma “sombra” mais a proteger os usuários daquele serviço público, que ali esperam desprotegidos do sol no aguardo de serem atendidos, ficará mais “fashion” sem árvores que atrapalham o novo visual das paredes pintadas. Só pode ser esse o motivo mais “nobre” para “arrancarem em vida” uma árvore linda como aquela.

O fato é que não foi morta somente aquela árvore. A esperança de que fosse respeitada a vida de um ser vivo no planeta, também foi morta, e olha “que ela é a última a morrer”. Isto significa que estamos na iminência do fim.

Com certeza com a esperança morta, pouco tempo falta para que a humanidade sinta os efeitos danosos do aquecimento global, das radiações solares e das energias cósmicas que irão torrar os iníquos e as bestas “quadradas” que não percebem que uma árvore, duas ou três são tão importantes quanto uma floresta, dependendo de onde estejam e qual função estão cumprindo no ambiente urbano, e que as árvores nas calçadas fazem muita diferença nas cidades no atual momento em que a humanidade está numa encruzilhada cozinhando a 40 graus ou mais.

Há anos derrubam figueiras centenárias em minutos e “nada lhes acontece” pensam os tolos que autorizam e os que não cumprem seu papel de zelar pela lei que protege esta árvore com a “imunidade ao corte”. Tudo palhaçada, e o que vale é o “corte e a impunidade”, e o troco?, sim receberão do Universo e de Gaya o resultado de seus atos, por suas atitudes e comportamentos que colocam em risco a raça humana e demais seres na jornada evolutiva.

Mas como moramos em “Horse City”, que antes era chamada de Tapes, o que mais podemos esperar de “As Nices” que nos governam e decidem fazer o que bem entendem com uma árvore de 20 anos de idade ou mais, que não fez mal algum a alguém, nem aos funcionários “tristes” pelo ocorrido ou ao povo na volta da cena dantesca na manhã de 12 de março de 2009.

O que esperar para os anos vindouros, quando ainda estaremos sob a política do “Paga e Derruba” árvores, e que se manterá “derrubando” árvores, florestas, drenando banhados, explorando a areia e poluindo a água, e “nada” de Sanga limpa, Lixão fechado, Praias balneáveis, Bosque público aberto, bueiros de águas das chuvas limpos,... nada disso, pois “os objetivos” do Governo são outros, e nem mesmo estes sabem qual seria este objetivo, afinal de contas, “não dá nada” fazer ou não fazer, tudo continuará mudando, sempre com a melhores “piorias” possíveis.

Julio Wandam

(*) Texto escrito em 1972 por José Antônio Lutzenberger (1926-2002) – publicado no livro “Fim do Futuro?” Pág.37 (1ª Ed. 1980)

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